Dia 29 de Março, Sexta-Feira da Paixão: um excerto do livro «O Sagrado e o Profano - A Essência das Religiões», de Mircea Eliade, ecoa aqui e ali:
«o sagrado é o 'real' por excelência, ao mesmo tempo poder, eficiência, fonte de vida e de fecundidade. O desejo do homem religioso de viver no 'sagrado' equivale, de fato, ao seu desejo de se situar na realidade objetiva, de não se deixar paralisar pela relatividade sem fim das experiências puramente subjetivas, de viver num mundo real e eficiente — e não numa ilusão.»
E disse bem, o meu amigo: «o sagrado é o 'real' por excelência» Porque sempre foi assim desde o início em todas as culturas. Mas um trecho desses, isolado dos outros, esvazia-se na sua quase totalidade. Da mesma forma que a nossa época se vai esvaziando, fragmentada, relativizada, até um ressecamento estaladiço como o do solo do nordeste brasileiro em época de seca. No entanto, os dias sagrados permanecem. Cheios. Ainda que para cada vez menos pessoas. E transbordam de um século para o outro — agora, gota a gota. Porque não é o sagrado, e o seu significado, que se esvazia: são as pessoas. E então, encolhidas, já não cabe grande coisa dentro delas: só o dia a dia desse cubículo que é o homem sem um futuro que o transcenda. Um quase nada que parece muito. Mas só.
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