domingo, 14 de julho de 2013

Adão no seu quintal

Meu braço suspenso no ar e a mão em forma de garra a apontar para o Farruco. Ele deve considerar tal gesto uma espécie de anúncio do fim do mundo ou o prenúncio da sua morte ou o mais terrível e indesculpável xingamento. É no que se traduz para mim a sua reação. Salta, rosna, contorce-se todo. Mas se rapidamente desço a mão e faço festas na sua cabeçorra, logo aquieta-se e fecha os olhos em agrado. Trinta vezes o mesmo gesto; trinta vezes, incansavelmente, a mesma reação. Espécie de fidelidade que só cai bem nos nossos irmãos animais. Por ser sincera, sem coação, sem constrangimento. Por ser assim, e só. Tão simples. Um homem uma aldeia um cão, ser bicho ser gente natureza ao mesmo tempo, alegria. Adão em seu quintal. Paraíso.

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