quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O teu nome é homem

Os sapatos no chão (som abafado), tocando instrumentos: folhas secas com afinação em chuva menor, chuva fina, que já se foi mas insiste que não. O frio ressona nos muros de pedras. Basta um toque para que desperte e corra da ponta dos dedos para todo o corpo, em solavancos: arrepio de surpresa, engano?, pois o corpo recebe-o aquecido, coberto, como se fosse imune às temperaturas que não lhe convém. Por isso, o frio estremece de estranhamento e sai à procura do que lhe falta esfriar. Corre cada milímetro em intensa velocidade, até que os braços cruzem-se ao peito e o andamento seja outro. Acelera, homem frágil. Cobre-te de artifícios. Veste-te da tua inteligência e pequenez diante dos elementos. De que te adianta resmungar os ruídos da tua impotência? Como conseguiste sobreviver pelos séculos? sorte, necessidade? Não toques nas pedras, respeita-as; toma cuidado com a afinação das folhas, não pises na canção sem motivo. Ouve a resposta: não foi necessidade. Olha para o céu estrelado, diminui a tua importância e grita: foi sorte. Os planetas são incontáveis e nenhum deles ouviu falar de ti. O teu nome no resto do universo é silêncio. Impossibilidade. O teu nome é homem.

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