De café em café, o frio parece ser mais. Venta. A franja do cabelo dança e perturba os olhos, que piscam, apertados, já confusos com os minúsculos pingos de chuva que espetam. A rua, turva. A noite espelhada de umidade. Os candeeiros, impávidos, reduzem o mundo a círculos de luz alaranjada, frações de certezas. Para lá, entre um café e outro, escuridão. E alguém, sem rosto, de guarda-chuva preto rente à cabeça, segue em silêncio pela estrada sem se importar com os sapatos e a calça encharcados. Vejo-o de costas. Vai a passo lento. E se parece tanto comigo que, se calhar, sou eu. Sou eu, sim. Estou imaginando que vem alguém atrás de mim e devo estar sentindo o incômodo de sempre, o de estar sendo observado. Preguiça de olhar para trás e confirmar a imaginação. O vento vai jogar com mais força a franja para dentro dos olhos e. Deixo-o. Ouve, eu que imagina, eu incomodado: viro ali naquele caminho à esquerda e deixo de ser a tua sombra. Mas sei que, se não olhares para trás, hei de te acompanhar, ainda que não, até a tua casa. Mas então seremos um só, ambos apenas na tua imaginação.
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