Da janela, eu vejo a minha infância. Ruas que os meus pés cada vez maiores pisaram, até o dia em que minhas pegadas tornaram-se adultas e desde então sempre iguais. Caras envelhecidas que eu conheço desde quando era ainda a juventude que estampavam. A rodovia, sempre jovem, barulhenta de dia e de madrugada pulsações. Mas aqui dentro... Interruptores de luz, os mesmos desde que fui sendo gente. Cada parede sou eu. Vivi na mesma casa desde o meu nascimento até os trinta e cinco anos, então toda ela confunde-se com a minha pele e com o que está daí para baixo. Nesta casa, no Brasil, foi depositada a semente da minha memória. Aqui. Só aqui, talvez, eu possa conversar com o que de mim fui esquecendo. Comigo mesmo, mas não o mesmo. Com aquele que está ali, agachado sobre o tapete da sala, brincando com um robozinho azul e vermelho. Aquele que nem imagina que um dia voltaria ao passado para ver a si mesmo e pensar: quase igual. Ou só quase. Que é a parte da frase que sou eu.
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