quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Seu Jão

— É, seu Zinho, o bom filho à casa torna.
— Pois é, seu João. Como vão as coisas?
— A vida é uma desgraça mas a gente se alegra, não é mesmo? Ando pra cá, mais a Maria, às voltas com o aprumo da casa. Obras. Sabe como é, uma lixeira que dói. Mas na hora do descanso o café cai bem. Corpo cansado aceita com prazer regalias. Quando o sol se vai a pôr já fico feliz do café. É aquela história, seu Zinho, antes do bolo pronto a gente já sente o cheiro bom dele e vamos comendo com a imaginação.
— Por falar nisso, tem bolo, seu Jão?
(Maria, traz pedaço de bolo pro estrangeiro — risos)
— Bolo de fubá, você gosta?
— Adoro. Se com café, então, nem se fala.
(Passa um café também, Maria)
— Tá ficando velha, a mulher. É a vida. Eu só não fico velho também porque não me olho no espelho. Mas mulher, sabe, né, se olha toda hora. Sente saudades dela mesma. Vai conferir. Vê cada envelhecimento novo. Explico a ela que não se olhe senão parece mais velha a cada vez, então ela diz que quando olha para o relógio o tempo demora mais para passar. Diz que o tempo no espelho tinha que ser igual. Eu concordo com ela, o tempo é que não.

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