Escrever é a melhor maneira de estar sozinho
(Disse-o Fernando Pessoa, por Caeiro:
"Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sozinho.")
mas já a pensar no encontro dos teus olhos com o que vou escrevendo. Tenho muitas vaidades, sim, mas de uma delas a culpa também é tua, que lê e gosta, quando o teu dizer desse gostar chega até onde eu estou. E estou aqui, sabes-o bem, a falar contigo desde a minha mais querida solidão, a dizer-te tanto, muitas vezes descobrindo-me a mim mesmo sob o doce relento do teu olhar. O nosso olhar de espanto, tu de um lado, eu do outro, ambos rindo do que eu fui capaz de escrever e tu de entender. Nem sempre é o mesmo entendimento, e é. Não te preocupes, a culpa há de ser sempre minha, que tenho os dedos molhados da ousadia que por vezes se me escapa através de uma fresta na minha timidez. Ouves a tagarelice dos meus sentidos. Sou-te grato. É mágica. Como não? Eu e tu, sozinhos, dentro de um breve momento de escrita e leitura, nessa comunhão de humanidade em que só nós dois participamos. Um por um em par comigo, já que cada leitura é um encontro de cada vez. Estou contigo, e tu comigo. Agora, neste nosso momento de segredo, de intimidade. Vem, lê. Flerta com os meus olhos. Dá-me a mão dos teus. Anda, vamos dar uma volta pelos jardins da minha imaginação. Ou fazer uma breve visita aos meus labirintos. Parecem-se com os teus, não é? qual susto? Somos humanos, os nossos caminhos são os mesmos. Prometo que será apenas um instante. É quanto dura um pequeno para sempre. É quanto me basta. Muito obrigado pela leitura, desde o mais fundo do meu coração. Da raiz dele. Que é onde eu procuro estar quando escrevo. Onde estou agora.
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