sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Sou amigo dos animais

Sou amigo dos animais. Não só por serem animais, mas por não usarem a palavra como meio de expressão e terem de se expressar de todas as outras maneiras menos essa e assim ser tudo mais intenso. Um olhar, um gesto com a cabeça, sons sem medo do ridículo, tudo tão expressivo. Simples. Lembro de quando ainda era criança e passava muito tempo deitado no chão ao lado da gaiola de um dos muitos Canários ou Coleiros que eu tive. Gostava de ver os seus movimentos ágeis, às vezes engraçados, sem jeito, e estar ali espantado por haver vida inteligente além do humano, observando essa vida se mexer e existir. Fascinação que durou tanto. E hoje me veio a saudade desses momentos. De apenas estar a observar quem sabe da sua existência e mais nada. Hoje eu sei que esse saber revela-se através do medo de um dia não mais se poder ser. Mas isso o sei eu, que sou homem e penso em validar todos os meus atos para que tenham significado e me valham a pena. Os animais são seres simples, impecáveis. Não têm que dar satisfação a ninguém. Nem a eles próprios. E desse modo tudo lhes vale a pena. Porque tudo tem apenas a importância de um instante. Mas nós, coitados, nascemos homens. Sem meio de fuga. Pois se agíssemos como os animais não seríamos nem bichos nem humanos, porque cada um tem o seu destino a cumprir e não há intercâmbio nem meio termo possível. Calhou-nos o mais difícil, fazer o quê? Talvez não perder o espanto diante da natureza. Não deixar que a nossa fascinação se atrofie diante do quotidiano que nos coube. Ou seja, não nos tornarmos os animais que os animais nunca foram.

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