quinta-feira, 5 de junho de 2014

Olhos de vidro

Tarde amena. Do segundo andar do café vejo as folhas dos plátanos à altura dos olhos: duas janelas cravadas nas pedras, vidros que vão compondo os silêncios que vou consumindo muito lentamente. Isolam-me. A luz do sol doura as folhas do lado oeste das árvores, que dançam devagar conforme o vento lhes vai solicitando. Estou só, aqui em cima. Metade da minha mesa sob o poente, a outra jaz em uma sombra fabricada em pedras. Um frigorífico canta baixinho, ao toque da eletricidade que lhe deu vida. Olho semicerrado para as folhas. Balançam agora com vigor. Dizem-me algo. Entendo, mas não sei explicar. A explicação não existe. São elas. Vou estar assim, a ver através dos vidros. São os meus olhos desta tarde. Olhos tranquilos, atentos. Compreendem o vento e as folhas. Conversam em luz e sombra. Tudo em silêncio.

Sem comentários:

Enviar um comentário